meu eu romântico odiado

Posted on 06 fevereiro, 2010 - 3 comentários -

decidi me calar e assumir.
decidi parar de me enganar e admitir.
eu estava vivendo todos os meus segundos para você.
dediquei os meus milésimos de horas vagas para pensar em ti.
larguei o meu nome, meu amor-próprio, minha vida, meu futuro e meu egoísmo.
eu neguei tudo o que havia para ser negado, sucumbi a minha vontade.
esqueci o que eu era, me tornei um obsessivo.
comecei a ruer minhas unhas constantemente.
você era o meu alimento.
pensar em ti era como um vício.
me droguei, overdosei.
supostamente me matei.
e me mataria quantas vezes fosse, só para olhar o seu sorriso mais uma vez.
aquele sorriso que me anestesiava.
sem ti, tudo doia.
eu não queria beijos.
eu não queria toque.
apenas sua presença ao meu lado, conversando comigo e me dando atenção.
por você eu era romântico.
por você eu era saudade.
por você eu hibernaria durante 300 anos.
nunca tive sorte no amor.
nunca terei sorte no amor.
hoje, eu te esqueço.
apenas assumo a missão de te suportar.

,apenas a sucata do meu lixo

Posted on 02 fevereiro, 2010 - 1 comentários -

Estou grávido de mim mesmo.
Meu filho irá se chamar: saudade.
saudade do que eu era e do que eu queria ser.
saudade do que eu sou e do que eu jamais serei.
Em encarnações passadas fui uma flor.
Uma flor murcha.
Uma flor preta.
Descolorida.
Insípida e inodora.
Exalei odores.
Mastigo e me calo.
O gosto da saudade é doce.
Doce e amargo.
Amargo e azedo.
Gosto e desgosto.
Oposto e suposto.
Quero falar do meu querer.
Eu quero, mesmo sem ter.
Eu quero o mar que não vira sertão.
Eu quero evolução.
Eu quero eva e adão.
Eu quero adão, sem eva.
A serpente que me enrola e me cospe.
A serpente que não me influencia.
A serpente que educa.
Quero errar apenas uma vez o mesmo erro, mas quero errar todos.
Quero cuspir fogo e não queimar meus lábios.
Quero o olhar que cala.
Quero os lábios que apenas mechem sem emitir som algum.
Quero entre o verde e o maduro.
Quero, mas não tenho.


LOUCURA 1 Quantos escorpiões existem nos deserto?
LOUCURA 2 O golpe já foi executado. Agora em questão de horas, o veneno vai se espalhar.
LOUCURA 1 E tudo o que foi areia um dia, agora será solo, um solo uniforme.
Quente.
LOUCURA 2 Superamos a dor, mas por que não somos capazes de esquecê-la?
LOUCURA 1 Se o mal existe, por que ainda existe o bem? Porque há Deus. E por mais que eu odeie essa idéia, ele existe. E por mais que eu lute, ele está presente.
LOUCURA 2 Se o calor é capaz de apagar a nossa memória, se a pouca água que ainda resta insiste em secar, evaporar. As memórias que permanecem são apenas as más lembranças, as boas se apagam, o sofrimento não as deixa existir.
LOUCURA 1 Se as crianças desde cedo aprendem a ser adultos, os adultos nunca foram crianças. A infância lhes foi roubada, e por mais que corram atrás, lutem por ela, não volta. Ela é única. A infância sem água.
LOUCURA 2 Nunca vi um céu tão limpo. Nada de nuvens, apenas o céu. Desde cedo aprendem a olhar sempre pro alto, à procura da salvação.
LOUCURA 1 Deus, Deus, Deus. Um nome que por aqui é sempre citado. Se existe crença no mundo, ela está toda concentrada nessa terra. Porque apesar dessa vida marcada, elas nunca esquecem a criatura divina, que sempre é por eles, que sempre os ajuda, que nunca deixa faltar.
LOUCURA 2 Se alguém morre foi porque Deus quis. Se a água faltou foi porque Deus quis. Se não tem a janta do dia, foi porque Deus quis. Será isso uma provação então? O calor que queima a pele...
LOUCURA 1 O calor que incendeia, aguça a luxúria que existe dentro do corpo. O calor que excita. Enlouquece. O que é loucura, senão um modo diferente de ver as coisas, de ver o mundo.
LOUCURA 2 Talvez os loucos estejam sempre em outra dimensão, seus corpos permanecem aqui, mas suas mentes, suas mentes voam longe.
LOUCURA 1 E dentro dessa terra, dentro dessa areia, eis que nasce uma flor, uma flor preta.
LOUCURA 2 Em volta da flor existia uma lama diferente, e essa lama foi se espalhando, se espalhando, até que tomou conta de tudo.
LOOUCURA 1 De tudo.
LOUCURAS Tudo

Trecho do espetáculo "Quente solo"
Texto: Robson Levy