A Bernardo

Posted on 31 outubro, 2010 - 0 comentários -



Bernardo e a água. Amarela e colorida. Bernardo nadava sufocado pela falta de oxigênio. Estava acostumado. Estava tranqüilo. O gosto da água era azul. Igual sua cor. Nadava até o limite. E tinha limite. Uma barreira incolor em contraste com a água amarelada. Sim, a barreira era incolor e Bernardo gostava de tocar seus lábios na barreira marcando seu limite. Bernardo era livre e aquele era seu mundo. Bernardo era azul e amarelo. Amarelo da água. Ao nadar, deslizava por entre as comidas apodrecidas de seu mundo. Bernardo era livre, até onde sabia. Bernardo era livre e azul. E amarelo, da água. Bernardo era ali e era só. E existia. Bernardo era monólogo. Existia e nadava livremente em seu mundo. Era pequeno, mas era seu. Era todo seu. Bernardo era peixe. Era fêmea. Era livre até onde sabia.


Inspirado por Pedro a ou Pedro v ou o dono de Bernardo.

Ciclo

Posted on 27 outubro, 2010 - 2 comentários -

Andar de bicicleta em uma cidade grande, ao meu ver, é:
Experimentar situações de quasemorte vezenquando.
Buzinas desnecessárias.
Buracos profundos.
Motoristas desesperados e desrespeitosos.
Adrenalina.
Sentir o cheiro de esgoto.
e também,
Me sentir livre e dentro de mim.
Me sentir livre e fora de mim.
Sentir que o mundo gira e com ele eu vou junto.
Saber que existem pessoas que andam e vivem sem a obstrução de um vidro fumê.
Sentir o vento conversando com o seu rosto.
Sentir o sol conversando com a sua pele ou a lua cantando para os seus poros.
Brincar com o tempo e com o espaço através dos segundos.
Inspirar e expirar. Forte, lento ou rápido.
Lembrar que em mim há muitos mais do que eu penso ou acho.
Sentir o olhar de ódio de alguns motoristas equivocados, digo, apressados.
Saber que o tempo não me aprisiona tanto e que eu posso driblar e brincar com ele.
É vencer engarrafamentos.
É me sentir um pouco mais humano.
É vencer a força que te empurra pra baixo e para os lados.
E principalmente, refletir, refletir, refletir refletir...

Setembro de 2010

Posted on 19 outubro, 2010 - 1 comentários -

Meus óculos caíram e eu sei que preciso deles para enxergar o mundo. Sei que também caio. E as paredes se fecham ao meu redor. Hoje não é luz. Hoje em mim há a esperança de luz. Sem a esperança eu não sei o que seria de mim.

Não se preucupem,
Eu só vou se for arrastado.

Cansei de listras e xadrez.
Ainda gosto do azul.
Mas só o azul sem nada dentro.
Quero morrer azul.
Azul puro.

Quanto aos meus amores, dedico a eles a rosa de Hiroshima em mim. Meu regime e meu comprimido para dor de cabeça.


Odeio quase tudo em mim.

Sinto fome.


E não passa.
Cobranças. E eu só tenho 19 anos. Preciso lutar pelo meu direito de errar. Parece que junto com a força da gravidade vem um montão de coisas te empurrando para baixo. De uma coisa eu tenho certeza, ninguém nunca será perfeito, nem o mais perfeccionista dos seres. Sempre vai faltar algo e sempre vai ter alguém para perceber o que está faltando. Se eu continuar me importando, vou enlouquecer. E já não sou tão normal. Cansado de mim. Das pessoas. Do arco-íris. Das cores. Do preto. Do branco. Não digo que morro. Ainda tenho esperança no sol nascente e em mim. E nas pessoas.
A vontade que eu tenho é de ingerir substâncias que causariam mutações genéticas. Depois disso nunca mais seria o mesmo. Por isso não faço.

Imposto e exposto

Posted on 09 agosto, 2010 - 0 comentários -

Não acredito em gêneros. O "masculino" que foi imposto. Existem várias maneiras de ser masculino, inclusive maneiras alternativas. Sempre me perguntam quem outorgou esse "masculino" que tanto falam. A caricatura acaba existindo como forma de auto-afirmação. Dentro de personagens existem outros personagens cíclicos. Eu sei que dentro disso tudo existe um alguém. Não, eu já me libertei dessas amarras. Hoje me sinto livre pra ser. O que vem de dentro procuro expor. Não de forma precária. Exponho de forma artística. Sinto falta de meus pensamentos. Sinto falta de escrever. Sinto falta de ler. Sinto falta de meus devaneios. Procuro existir dentro do que eu vivo. Converso com amigos e sinto vontade de tê-los comigo o tempo todo. Não acho que seja carência, acho que seja dependência. Também procuro momentos de solidão, mas sempre há a hora de quebrar esses momentos. Eu gosto do desgosto e do oposto. Também gosto do desoposto. Odeio o imposto. A liberdade tem limite, mas eu não quero conhecê-lo. Me deixa, me larga, me solta, me empurra para o sempre. Pode me agarrar, mas um dia eu vou me soltar. Sempre.

O cavalo

Posted on 29 julho, 2010 - 2 comentários -

Eu desaprovo o sistema que me outorga. Quero cada vez mais sentir o cheiro da terra. Fincarei meus pés em solo virgem. Eu peço para que façam silêncio. As rodas dos carros desobedecem. Os prédios não me deixam ver o nascer do sol. Sol que nasce todo dia. Eu que morro ao nascer. O freio é o transtorno. Agora silenciou. Por um minuto. Logo voltam a berrar. O ônibus não chega. Queria sair voando. O sol hoje está falante. Me deixa voar? Sinto um cheiro de pássaro morto. Peço perdão. Sei que também sou culpado. Vejo um cavalo a cavalgar em plena avenida sendo chicoteado por um rapaz. De tanto não falar mordi minha língua. Entrei no ônibus. Ele que anda por mim. Tudo deveria ser perto. Sinto falta de meus índios e de meus avós. Vejo uma marca de tiro no vidro do ônibus e uma filha ajudando sua mãe idosa. Carros óbvios. Cheiro de gasolina. Uma bolsa de retalhos. A mulher desceu do ônibus e morreu. Atropelada.

Olhar que engana ou Eu sei o que vi

Posted on 04 julho, 2010 - 2 comentários -

Minhas vontades gritam. Eu não tenho vergonha de ter recalque. Penso muito e deixo meus pensamentos passarem. Eles gritam. Eu penso demais. Eu penso em despensar. Vontade de ser irracional. Eu já cansei de tanta coisa, depois volto e aprendo a não mais cansar. Tudo é tão passageiro em mim. Em questão de minutos. Tudo em mim é mais rápido. Nada em mim permanece. Eu sei que existo e minha existência é muito forte. Uma força que incomoda e que não é fácil de digerir. Sorrio apenas para o sorrível. Eu expresso demais e não escondo quase nada. Quando penso que estou escondendo meus olhos falam por mim. Meu rosto que fala. Só não enxerga quem não tem olho. Se eu estou cansado é porque eu já cheguei ao meu limite. Meu limite talvez seja fácil de ser atingido. Eu não nasci pra que ninguém goste de mim, se as pessoas gostam o culpado não sou eu. Não preciso ser otimista. Eu nasci pra morrer, mas não quero morrer agora. Eu nasci. Eu nasci. Eu nasci, então existo. Quero existir ao menos para uma pessoa e se somente essa pessoa achar que minha existência foi válida, eu estarei feliz.Talvez um dia. Não me olhe se o olhar não era pra mim. Aprenda a direcionar a merda do seu olhar, filho da puta.

um movimento ou uma pergunta

Posted on 05 junho, 2010 - 0 comentários -

Trabalho com o é secretado. Escondido em mim. Arrancado de dentro. Eu sou a secreção do teu hálito. O escarro de ti. Supostamente me inebrio e não sei mais onde volto a aparecer. Sei que me escondo, mas não deles, eu me escondo dos olhares de dentro. Eu me escondo dos meus olhos e da voz impostada com que tentam me convencer. Eu tento trabalhar o cansaço, mas não da forma em que ele está. Trabalho em cima de uma exaustão imposta. Se o ser pensante fica apenas no racional, ele morre. Eu sei que as gotas estão ficando cada vez mais ásperas e um dia quero olhar para um filho e ser chamado de pai. Eu não entendo porque minha respiração está tão pesada e ao mesmo tempo eu me sinto tão leve. Livre. Solto. Eu respiro o que vem de dentro. Respiro pra dentro, pois já soltei tudo pra fora. Soltei em forma de uma urina escura, áspera. Eu não aprovo a lei que me outorga. A minha liberdade é o que ainda vou ser. Não sei. Quero pensar e quero transmitir com meu corpo, através de uma movimentação com significado. Não, isso é apenas o que eu quero, não o que eu sou. Talvez. Meus passos dirão por mim. E o que resta agora? Fechar os olhos e caminhar com a energia que vem em frações de segundo.






Livremente inspirado no profissional Eduardo Poulain

eu nomeado, eu desnomeado, eu rotulado, eu suposto, eu proposto, eu imposto ou meu nome

Posted on 31 maio, 2010 - 0 comentários -

Queria ser um homem de um nome apenas. De início demorei a ser o nome que me deram. Sempre que chamavam, ou gritavam, eu não respondia de imediato. Aquele som. Aquela musicalidade. Era estranha. Soava estranho. Criei um nome temporal. O nome que eu queria ser. O nome que talvez fosse meu. O nome que tomei pra mim. Me batizei. Meu nome artístico. Cheguei a acreditar que eu era aquilo, mas tive que me separar daquilo. Estava começando a me fazer um grande mal. Eu precisava ser meu nome. Eu era meu nome, não adiantava me enganar. Eu me enganei, isso. Comecei a me chamar. A sonorizar meu nome. Descobri um som diferente, mas agradável. Talvez fosse a maneira com quem chamavam o meu nome que não me agradava. A forma como tratavam o nome. Desnomeei. Me chamei. Hoje, me escuto. Hoje gosto. Hoje sou. Não apenas um nome. Não apenas o nome. Qual nome você me dá? Quantos nomes eu posso ter?                    .

Bailarina

Posted on 30 maio, 2010 - 1 comentários -

A noite me chamava para dançar e eu em nenhum momento rejeitei seus passos de dança. Passos cambaleantes. Passos rotatórios. E eu girava como uma bailarina. Eu simplesmente rodava, como se os círculos fossem intermináveis. Uma troca de olhares. Uma troca de energias inigualáveis. Momentos precisos. Passos de dança. Movimentos soltos e descompromissados. Eu queria aquilo e eu era aquilo. Enquanto acreditei ser. Maquiagens borradas e um borrão que se formava em minha visão distorcida. Distorcida pela rotação de meus olhos. E tudo girava. Eu girava. Eu rodava. Como a bailarina dos meus sonhos. Amanheceu e ao tocar nas gotas do chão, me senti livre. E eu era. Por um segundo, eu fui.

de lua,

Posted on 10 março, 2010 - 6 comentários -

eu quero te beijar num dia que tu esteja beijável
quero te pegar num dia que tu esteja pegável
quero te abraçar num dia que tu esteja abraçável.
e te tocar num dia que tu esteja tocável.

meu eu romântico odiado

Posted on 06 fevereiro, 2010 - 3 comentários -

decidi me calar e assumir.
decidi parar de me enganar e admitir.
eu estava vivendo todos os meus segundos para você.
dediquei os meus milésimos de horas vagas para pensar em ti.
larguei o meu nome, meu amor-próprio, minha vida, meu futuro e meu egoísmo.
eu neguei tudo o que havia para ser negado, sucumbi a minha vontade.
esqueci o que eu era, me tornei um obsessivo.
comecei a ruer minhas unhas constantemente.
você era o meu alimento.
pensar em ti era como um vício.
me droguei, overdosei.
supostamente me matei.
e me mataria quantas vezes fosse, só para olhar o seu sorriso mais uma vez.
aquele sorriso que me anestesiava.
sem ti, tudo doia.
eu não queria beijos.
eu não queria toque.
apenas sua presença ao meu lado, conversando comigo e me dando atenção.
por você eu era romântico.
por você eu era saudade.
por você eu hibernaria durante 300 anos.
nunca tive sorte no amor.
nunca terei sorte no amor.
hoje, eu te esqueço.
apenas assumo a missão de te suportar.

,apenas a sucata do meu lixo

Posted on 02 fevereiro, 2010 - 1 comentários -

Estou grávido de mim mesmo.
Meu filho irá se chamar: saudade.
saudade do que eu era e do que eu queria ser.
saudade do que eu sou e do que eu jamais serei.
Em encarnações passadas fui uma flor.
Uma flor murcha.
Uma flor preta.
Descolorida.
Insípida e inodora.
Exalei odores.
Mastigo e me calo.
O gosto da saudade é doce.
Doce e amargo.
Amargo e azedo.
Gosto e desgosto.
Oposto e suposto.
Quero falar do meu querer.
Eu quero, mesmo sem ter.
Eu quero o mar que não vira sertão.
Eu quero evolução.
Eu quero eva e adão.
Eu quero adão, sem eva.
A serpente que me enrola e me cospe.
A serpente que não me influencia.
A serpente que educa.
Quero errar apenas uma vez o mesmo erro, mas quero errar todos.
Quero cuspir fogo e não queimar meus lábios.
Quero o olhar que cala.
Quero os lábios que apenas mechem sem emitir som algum.
Quero entre o verde e o maduro.
Quero, mas não tenho.


LOUCURA 1 Quantos escorpiões existem nos deserto?
LOUCURA 2 O golpe já foi executado. Agora em questão de horas, o veneno vai se espalhar.
LOUCURA 1 E tudo o que foi areia um dia, agora será solo, um solo uniforme.
Quente.
LOUCURA 2 Superamos a dor, mas por que não somos capazes de esquecê-la?
LOUCURA 1 Se o mal existe, por que ainda existe o bem? Porque há Deus. E por mais que eu odeie essa idéia, ele existe. E por mais que eu lute, ele está presente.
LOUCURA 2 Se o calor é capaz de apagar a nossa memória, se a pouca água que ainda resta insiste em secar, evaporar. As memórias que permanecem são apenas as más lembranças, as boas se apagam, o sofrimento não as deixa existir.
LOUCURA 1 Se as crianças desde cedo aprendem a ser adultos, os adultos nunca foram crianças. A infância lhes foi roubada, e por mais que corram atrás, lutem por ela, não volta. Ela é única. A infância sem água.
LOUCURA 2 Nunca vi um céu tão limpo. Nada de nuvens, apenas o céu. Desde cedo aprendem a olhar sempre pro alto, à procura da salvação.
LOUCURA 1 Deus, Deus, Deus. Um nome que por aqui é sempre citado. Se existe crença no mundo, ela está toda concentrada nessa terra. Porque apesar dessa vida marcada, elas nunca esquecem a criatura divina, que sempre é por eles, que sempre os ajuda, que nunca deixa faltar.
LOUCURA 2 Se alguém morre foi porque Deus quis. Se a água faltou foi porque Deus quis. Se não tem a janta do dia, foi porque Deus quis. Será isso uma provação então? O calor que queima a pele...
LOUCURA 1 O calor que incendeia, aguça a luxúria que existe dentro do corpo. O calor que excita. Enlouquece. O que é loucura, senão um modo diferente de ver as coisas, de ver o mundo.
LOUCURA 2 Talvez os loucos estejam sempre em outra dimensão, seus corpos permanecem aqui, mas suas mentes, suas mentes voam longe.
LOUCURA 1 E dentro dessa terra, dentro dessa areia, eis que nasce uma flor, uma flor preta.
LOUCURA 2 Em volta da flor existia uma lama diferente, e essa lama foi se espalhando, se espalhando, até que tomou conta de tudo.
LOOUCURA 1 De tudo.
LOUCURAS Tudo

Trecho do espetáculo "Quente solo"
Texto: Robson Levy

o que nunca foi acustumado a receber o terrível : NÃO.

Posted on 14 janeiro, 2010 - 0 comentários -

Sim, claro, evidentemente. Cheguei a ter pesadelos com todos os sinais negativos que a vida me fornecia. O destino parecia me empurra contra o impulso aplicado pelos meus desejos. Ao primeiro não, respondi com uma fuga, tomei como pretexto uma briga com meu pai, arrumei minha mala e saí andando até o centro da cidade, em uma cena tipicamente libertadora, em que eu deixei para trás toda a minha inocência, todos os meus sonhos que menino novo, eu havia saído da casca, ali seria o meu rompimento com a infância. Voltei para casa duas semanas depois, com o rabo entre as pernas e a certeza de que da próxima vez que eu saísse de casa, seria para nunca mais voltar e ocorreria de maneira pacífica. Me entreguei ao medo, escolhi fugir do que eu sabia que era o certo a executar, fugi de mim mesmo e recebi o meu segundo nãom o mais duro, pois eu cheguei a tocar no meu objetivo, ele sorriu para mim e cuspiu na minha cara. Eu chorei, senti pena de mim mesmo, entrei em uma depressão intimista, mas depois de um curto longo tempo, resolvi: ou seria ou seria. Não teria mais tempo. Eu iria fazer isso sozinho, pois nunca tive a sorte ao meu lado, Se eu tivesse que vencer, seria por mérito meu. O orgasmo veio 6 meses depois com o meu primeiro sim. Sim, sim, sim, existe palavra mais doce?