Os sapatos

Posted on 28 setembro, 2011 - 0 comentários -

Dor no peito. Já tirei os meus sapatos. Me sinto liberto agora.
Não vou querer explicar. Não quero ter que encontrar motivos. Não quero ser obrigado a mentir ou inventar razões. Pode ser meu medo de se entregar. Pode ser meu medo de ser de apenas uma pessoa. Pode ser tanta coisa.
Meu peito continua doendo e o vazio aumenta.
Eu não consigo escrever. As palavras são poucas e pequenas. As palavras não são.
Quando eu era mais novo, beijava o travesseiro e imaginava uma pessoa. Essa pessoa não existe. Eu continuo procurando. Sempre que penso ter achado percebo que me enganei. São todas tão previsíveis. É tudo tão do mesmo. Eu estou fora do mundo agora. Eu vivo dentro de mim.
Eu queria que fosse sempre noite, bastaria desligar as luzes e fingir que eu não existo.
Eu queria ser invisível.
Quando eu acordo, todos os dias, penso que será o melhor dia da minha vida. É tudo rotina. Os dias são cópias infiéis uns dos outros. Os dias são premeditados. As horas não, as horas são reais. As horas realmente acontecem. As horas me convencem da verdade. Talvez se eu vivesse mais as horas... Seria tão fragmentado. Os dias são clones. Clones imundos e sujos. As pessoas também. As pessoas mentem o tempo todo. Não com a boca, mas com o corpo. Mentem de corpo inteiro. Eu minto também. Eu sou uma pessoa. Meu peito dói e eu já tirei meus sapatos. Na verdade não são meus, são emprestados. Eu não tenho nada. Nada.

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